a luta yanomami
17 de janeiro de 2019vídeo-ensaioclaudia andujar,davi kopenawa,lévi-strauss,gustavo santaolalla,ennio morricone
a luta yanomami
claudia andujar
Claudia Andujar perdeu quase toda a família no Holocausto. Depois de passar por muitos países, chega ao Brasil aos 24 anos e começa a fotografar. Nos anos 1970, vai para a Amazônia a trabalho e faz seu primeiro contato com os Yanomami. Dali em diante, sua vida se transformaria por completo e sua obra se tornaria instrumento de luta em favor desse povo. Neste vídeo-ensaio, contamos um pouco da luta Yanomami através da vida e da obra de Claudia Andujar.
“A luta Yanomami” também é o título da exposição de Claudia Andujar no Instituto Moreira Sales de São Paulo. A exposição permanece aberta, com entrada gratuita, até 7 de abril de 2019. Algumas informações e imagens da exposição foram utilizadas neste ensaio.
a luta yanomami
claudia andujar
21 jan. 2019 (15min 38seg)
texto e edição zen e maitan
index claudia andujar, davi kopenawa, lévi-strauss
palavras-chave yanomami, ditadura militar, fotografia, povos indígenas, família
trilha sonora
alma | gustavo santaolalla
canto de crianças yanomami | xapiri*
canto xamânico yanomami | xapiri*
guarani | ennio morricone
requiem | gustavo santaolalla
humanidad | gustavo santaolalla
vamos | gustavo santaolalla
as cidades invisíveis
8 de janeiro de 2019vídeo-ensaioitalo calvino,diogo mainardi
as cidades invisíveis
italo calvino
“Se meu livro As cidades invisíveis continua sendo para mim aquele em que penso haver dito mais coisas, será talvez porque tenha conseguido concentrar em um único símbolo todas as minhas reflexões, experiências e conjeturas.” Assim se refere a este livro o próprio Italo Calvino – um dos escritores mais importantes e instigantes da segunda metade do século XX. O famoso viajante Marco Polo descreve para Kublai Khan as incontáveis cidades do imenso império do conquistador mongol. Neste livro surpreendente, a cidade deixa de ser um conceito geográfico para se tornar um símbolo complexo e inesgotável da experiência humana. [Companhia das Letras]
Este é um projeto de leitura de algumas das cidades do livro. Periodicamente, atualizaremos esta página com novos textos. Acompanhe o canal no Soundcloud, onde publicaremos os áudios e, se gostar, nos ajude a divulgar o projeto.
anastácia // as cidades e o desejo 2
A três dias de distância, caminhando em direção ao sul, encontra-se Anastácia, cidade banhada por canais concêntricos e sobrevoada por pipas. Eu deveria enumerar as mercadorias que aqui se compram a preços vantajosos: ágata ônix crisópraso e outras variedades de calcedônia; deveria louvar a carne do faisão dourado que aqui se cozinha na lenha seca da cerejeira e se salpica com muito orégano; falar das mulheres que vi tomar banho no tanque de um jardim e que às vezes convidam — diz-se — o viajante a despir-se com elas e persegui-las dentro da água. Mas com essas notícias não falaria da verdadeira essência da cidade: porque, enquanto a descrição de Anastácia desperta uma série de desejos que deverão ser reprimidos, quem se encontra uma manhã no centro de Anastácia será circundado por desejos que se despertam simultaneamente. A cidade aparece como um todo no qual nenhum desejo é desperdiçado e do qual você faz parte, e, uma vez que aqui se goza tudo o que não se goza em outros lugares, não resta nada além de residir nesse desejo e se satisfazer. Anastácia, cidade enganosa, tem um poder, que às vezes se diz maligno e outras vezes benigno: se você trabalha oito horas por dia como minerador de ágatas ônix crisóprasos, a fadiga que dá forma aos seus desejos toma dos desejos a sua forma, e você acha que está se divertindo em Anastácia quando não passa de seu escravo.

italo calvino
Nasceu em Santiago de Las Vegas, Cuba, e foi para a Itália logo após o nascimento. Participou da resistência ao fascismo durante a guerra e foi membro do Partido Comunista até 1956. Em 1946 instalou-se em Turim, onde se doutorou com uma tese sobre Joseph Conrad. Lançou sua primeira obra, A trilha dos ninhos de aranha, em1947. Considerado um dos maiores escritores europeus do século XX, morreu em 1985.
47 segundos // roteiro
30 de dezembro de 2018metadataemil zátopek,gabriela andersen-schiess,jonathan franzen,charles darwin,jaron lanier,frederic skinner,Joseba Elola,47 segundos,zen
47 segundos // roteiro
como a internet nos atrai (e nos distrai)
Quarenta e sete segundos. Quanto duram 47 segundos? O que é possível fazer, o que é possível descobrir em tão pouco tempo?
Descubro no Google que o voo mais curto do mundo pode durar 47 segundos em condições climáticas ideais. A depender da direção em que o vento sopra.
O voo percorre 2,73 quilômetros, saindo de Westray para chegar a Papa Westray, em Orkney, um arquipélago na costa noroeste da Escócia.
A julgar pelas fotos do arquipélago, a viagem deve ser tão bela quanto breve.
***
Quarenta e sete segundos. Este é o tempo médio em que permanecemos numa aba quando navegamos na internet.
Li isso em um artigo meio distópico, que classificava os smartphones como armas de distração em massa.
O autor citava uma pesquisa que chegou a esse dado: quando estamos trabalhando em frente a um computador, mudamos nosso foco de atenção a cada 47 segundos.
***
Em 47 segundos, com acesso à internet, posso ver uma imagem de que gosto muito. Por exemplo: este vídeo de Emil Zátopek, a locomotiva humana, disputando as Olimpíadas de Helsinki em 1952.
(Deixar o vídeo rolando até completar 47 segundos.)
***
[começar em silêncio]
Há muitos anos, li sobre experimentos de privação sensorial num livro de psicologia.
Cientistas particularmente sádicos privavam pessoas de todo estímulo para ver o que acontecia.
Os experimentos eram feitos com ajuda de máscaras, óculos, luvas e engenhocas como câmaras anecoicas e tanques de isolamento sensorial.
Como é de se esperar, as cobaias humanas reagiam muito mal a esses testes. Em geral, o cérebro criava alucinações assustadoramente realistas para que o corpo se sentisse estimulado.
A moral da história, para o autor do livro, era essa: precisamos de estímulos sensoriais, e não há vida possível sem interação com o mundo.
***
Emil Zátopek devia saber bem o peso do tempo. Quanto duram 47 segundos nos últimos metros de uma maratona, quando o corpo já não suporta sequer mais um passo, e é só a mente que o mantém em pé?
(Pausa.)
Uma coisa curiosa: dizem que ao longo de toda a corrida, um maratonista deve lutar contra sua mente, que repete o tempo todo: “Vamos parar por aqui”.
Mas, no final da corrida, com o corpo devastado pelos 42 quilômetros, é a mente que leva o corpo à linha de chegada.
Como naquela outra imagem olímpica, talvez a mais marcante de todas, em que Gabriela Andersen-Schiess cambaleia por quatrocentos metros para conseguir o 37º lugar entre 44 corredoras.
***
O artigo sobre celulares como armas de distração em massa diz que há um termo budista para se referir a uma mente como a nossa, que pula de galho em galho a cada 47 segundos: mind monkey.
A imagem me parece precisa: às vezes, é como se um bando de macaquinhos hiperativos brigassem ou brincassem o tempo inteiro dentro de minha cabeça.
***
No mesmo livro de psicologia que falava da privação sensorial, havia um interessante capítulo sobre behaviorismo, com descrições e ilustrações detalhadas da caixa de Skinner.
Um livro recente, de Jaron Lanier, demonstra como desenvolvedores de sites como Google e Facebook usaram conscientemente a teoria behaviorista para criar suas próprias caixas de Skinner.
E a má notícia é que somos nós os ratinhos. Somos nós as cobaias humanas de uma experiência inédita de engenharia social.
A cada alteração no ambiente virtual, grupos cujas motivações mal conhecemos observam mudanças em nosso comportamento. Passamos então a agir de acordo com esse ambiente, aceitando seu sistema de punições e recompensas.
E o mais assustador: estou disposto a continuar dentro da caixa de Skinner desde que a internet continue a me fornecer pequenas doses de dopamina a cada 47 segundos.
***
Nas Olímpiadas de 1952, Zátopek ganhou a prova de 5 mil metros, de 10 mil metros e a maratona.
Mas isso não importa.
***
No artigo sobre celulares como armas de distração em massa, há um trecho interessante, que diz:
“O ser-humano está desenhado para mudar sua atenção com facilidade. É algo que garante sua sobrevivência desde os primeiros dias da espécie. Houve um tempo em que os estímulos partiam da natureza, e tendiam a ser lentos. A folha que caía da árvore. O voo da mosca. Na era moderna, tudo começou a acontecer mais depressa. Na digital, tudo se acelerou.”
Esse trecho me fez pensar em como a capacidade de deter a atenção para observar um fenômeno é o maior responsável por nossos pequenos avanços como espécie. Isso vale para a arte, em que a observação sempre foi crucial, e também para a ciência.
Para fazer um avião, por exemplo, uma máquina capaz de cruzar 2,73 quilômetros em 47 segundos, o humano deve ter observado com muita atenção o voo dos pássaros.
(Pausa.)
E por falar em pássaros, como Darwin chegaria à teoria da evolução sem a atenciosa e detida observação desses animais? Vivesse hoje, Darwin talvez estivesse pulando de artigo em artigo da Wikipédia a cada 47 segundos, mergulhado demais em tanta informação para pressentir que a resposta para suas questões pudesse estar nas viagens pelo mundo ou nos passeios pelo campo mais próximo de casa, onde podia observar a terra, as plantas e os animais.
***
O artigo sobre distração em massa compara os smartphones com o cigarro.
A comparação é feita por muitos autores, e em parte me parece verdadeira. Em um texto escrito no calor da invasão de Nova York pelos Blackberries, Jonathan Franzen resumiu bem a questão:
“A Nova York do final dos anos 1990 testemunhava a transição da cultura da nicotina para a cultura do celular. Num dia, o volume no bolso da camisa era o maço de Marlboro; no dia seguinte era um Motorola. Num dia, a garota bonitinha, vulnerável e desacompanhada ocupava as mãos, a boca e a atenção com um cigarro; no dia seguinte, ela as ocupava com uma conversa importante com uma pessoa que não era você. Num dia, a molecada fazia roda em torno do bambambã da turma que tinha comprado um maço de cigarros mentolados; no dia seguinte, o grupo rodeava o primeiro menino que tinha aparecido com uma tela colorida. Num dia, viajantes acendiam o isqueiro assim que saíam do
avião; no dia seguinte, eles logo acionavam o celular”.
***
Não sei o que Emil Zátopek tem a ver com redes sociais, tabagismo e hábitos mentais da minha geração. Nem sei porque gosto tanto dessa imagem, sem nada demais além de homens correndo.
(Pausa.)
Mas suspeito que há algo de irreconciliável entre meu Facebook e uma maratona.
Talvez seja o feed infinito, que rolo como Sísifo rolando a pedra montanha acima, um hábito em tudo oposto à experiência de uma maratona, que só pode ocorrer se tiver um começo e um fim bem definidos. Ninguém seria louco o bastante para se inscrever em uma corrida infinita.
Ou talvez seja a diferença entre as pequenas doses de dopamina que busco a cada 47 segundos, em microprazeres que nada devem ter a ver com o prazer de Zátopek ao cruzar a linha de chegada.
Não sei. Talvez seja a realidade que sinto nessas imagens.
Corpos correndo na rua. Sem simulacros.
∝ genoma // esta publicação deriva e complementa o vídeo-ensaio 47 segundos. clique no título para acessar a página do vídeo ou no player abaixo para assistir.
30 de dezembro, 2018. Seção: Ensaios. Index: Emil Zátopek, Gabriela Andersen-Schiess, Frederic Skinner, Jaron Lanier, Charles Darwin, Jonathan Franzen. Publicação: Zen. Revisão: Maitan.
em preto e branco // roteiro
30 de dezembro de 2018metadatarobert frank,martine franck,alice ruiz,bashô,cecília meireles,henri cartier-bresson,em preto e branco
em preto e branco // roteiro
henri cartier-bresson & a arte oriental
[Entrevista de Cartier-Bresson em L’Amour tout court, de 54:57 a 55:20: https://bit.ly/2R1g6Z9]
– Podemos aprender a ver?
– Podemos aprender a fazer amor?
…
– Corte isso!
[Vinheta da Vigília]
[Plano de Cartier-Bresson em L’Amour tout court, a partir de 00:19: https://bit.ly/2R1g6Z9]
Esse é Henri Cartier-Bresson. Talvez o maior fotógrafo da história. Ou – por que não? – um dos maiores artistas da história.
[Entram fotos de Cartier-Bresson]
O Tolstói da fotografia. O olho do século. O pai do fotojornalismo.
Mas o que dizem esses títulos grandiloquentes? O próprio Cartier-Bresson jamais concordaria com eles.
[Trecho sobre “etiquetas” da entrevista de Cartier-Bresson, de 6:30 a 6:59: https://bit.ly/2R55hFs]
[Depois da fala de Cartier-Bresson, há uma breve pausa, um momento sem imagens]
Talvez seja melhor voltar pro começo…
[Plano de Cartier-Bresson em L’Amour tout court, a partir de 00:19, sendo rebobinado]
Esse é Henri Cartier-Bresson. Um senhor simpático.
[Entram as imagens de Cartier-Bresson no filme L’aventure moderne: https://bit.ly/2P9KJ1i]
E este é Cartier-Bresson alguns anos antes, preparando sua Leica.
Dançando pelas ruas de Paris em busca de uma imagem.
[Fotos de Cartier-Bresson]
Essas são algumas das milhares de fotos que Cartier-Bresson tirou ao longo da vida.
Todas em preto e branco, como se pode ver.
Cartier-Bresson nasceu em 1908 e morreu em 2004, aos 95 anos. Atravessou o século XX.
Durante todo o tempo que fotografou, fotografou em preto e branco. Na verdade, não seria nenhum exagero classificar Cartier-Bresson como um verdadeiro militante da fotografia em preto e branco, contra a fotografia colorida.
Ao longo do tempo, foram muitos os argumentos do fotógrafo a favor do preto e branco. O primeiro deles, presente em seu livro O momento decisivo, de 1952, é um argumento estritamente técnico: a baixa velocidade do filme colorido, uma novidade naquela época, reduziria a profundidade do foco.
Uma explicação plausível, embora, pra ser sincero, eu não a entenda.
Quando a tecnologia do filme colorido evolui e suas deficiências são corrigidas, Cartier-Bresson se vê obrigado a mudar de argumento. O uso do preto e branco passa a ser então uma questão de princípio. A cor pertence à pintura, dizia Cartier-Bresson, somente a ela, e cabe ao fotógrafo respeitar esse limite.
Um argumento plausível, e que se enquadra em um debate importante para os artistas do século XX: o debate sobre a especificidade de cada uma das artes, sobre o que há de realmente específico em cada uma delas. E, por extensão, um debate sobre a função do artista.
Mas a verdade é que esse argumento de Cartier-Bresson não me convence. Ele ainda me parece técnico demais, uma versão um pouco mais elaborada do argumento que acusava as limitações do filme colorido.
Para uma explicação mais convincente, talvez tenhamos que recorrer a outro fotógrafo: Robert Frank.
[Foto de Robert Frank e fotos de sua autoria]
A fotografia de Robert Frank é muito diferente da fotografia de Cartier-Bresson. No entanto, os dois compartilham a mesma preferência pelo preto e branco. Certa vez, explicando essa preferência, Robert Frank disse:
“Preto e branco são as cores da fotografia. Para mim, elas simbolizam as duas possibilidades, esperança e desespero, a que a humanidade estará para sempre sujeita. A maioria de minhas fotos é de pessoas; elas são vistas com simplicidade, como se através dos olhos do homem da rua. Há uma coisa que a fotografia precisa conter: a humanidade do momento.”
[Voltam as fotos de Cartier-Bresson]
As composições geométricas de Cartier-Bresson talvez não falem de esperança e desespero. Mas, certamente, há em suas fotos a simplicidade de que fala Robert Frank. Uma simplicidade que busca o que há de essencial no momento fotografado, dispensando tudo o que pode haver de supérfluo – a cor, inclusive.
Essa busca pela essência do momento, ou, em outras palavras, essa busca por passar o máximo de significado com o mínimo de meios me faz lembrar de outras formas de arte. Todas elas, por acaso, vindas do oriente.
Penso, por exemplo, no haikai, uma forma de poesia japonesa em que cada poema deve se limitar a dezessete sons. Com apenas dezessete sons, o poeta deve colocar o leitor no aqui e no agora, despertando com umas poucas palavras um estado contemplativo que não pode ser explicado por palavras.
Com o mínimo de meios, o máximo de significado. Como no “Haikai da rã”, de Bashô, traduzido por Cecília Meirelles:
“Velho tanque.
Uma rã mergulha.
Barulho da água.
Com o mínimo de meios, o suficiente. Como nessa famosa foto de Cartier-Bresson: “Atrás da Estação de Saint-Lazare”.
[Entra a foto https://mo.ma/2ynqSlF]
A simplicidade da fotografia de Cartier-Bresson e sua defesa do preto e branco me fazem lembrar também do sumi-ê, uma antiga técnica oriental de pintura.
[Entram pinturas sumi-ê ou usar planos-detalhe de vídeos como esse: https://bit.ly/2q3pcZS]
Conhecido como a “arte do essencial”, o sumi-ê surgiu na China e chegou ao Japão, onde foi levado à perfeição dentro de monastérios.
O sumi-ê é quase inteiramente preto e branco, mas sua monocromia não se confunde com a negação absoluta da cor. Seus vários tons de cinza e preto aludem à visibilidade da mente, e na imaginação de quem contempla a pintura esses tons podem assumir qualquer cor. Tudo depende do olhar do observador.
[Transição de pinturas sumi-ê para paisagens coloridas, parecidas com as que as pinturas representam]
Tanto o sumi-ê quanto os haikais são considerados caminhos possíveis para se experimentar o zen. As duas formas de arte podem ser consideradas um tipo de meditação.
No sumi-ê e no haikai, assim como na fotografia, há um apagamento do sujeito, um esforço do ego para deixar de existir e se transformar em pura percepção. Ou, como disse Alice Ruiz:
“O fotógrafo não aparece na foto, mas sua sensibilidade sim”.
[Trecho da entrevista de Cartier-Bresson, de 5:13 a 6:20 (até “life in general”): https://bit.ly/2R55hFs]
[Após a entrevista, entram fotos de Cartier-Bresson, como essas: https://bit.ly/2EyG2tP e https://bit.ly/2PJQCiB]
A simplicidade da fotografia de Cartier-Bresson e a simplicidade que o próprio fotógrafo transparece em suas entrevistas aparece também nas fotos em que Cartier-Bresson está na frente, e não atrás da câmera. É sobretudo nessas imagens que os títulos grandiloquentes, como “olhar do século” ou “o maior fotógrafo da história”, parecem fora de lugar. Nesses retratos, Henri é só um senhor simpático, sorrindo bondoso para a câmera, sem a máscara do “gênio”, do “grande artista”.
[Breve pausa]
Toda a riqueza de sua visão de mundo expressa em um sorriso. O máximo de significado, com o mínimo de meios.
[Entra a última foto do vídeo: https://i.pinimg.com/originals/72/c0/64/72c06448706bb99f02c9c5c28218dd6c.jpg]
Nessa foto – por sinal, minha preferida – Henri aparece ao lado de sua esposa, Martine Franck, também fotógrafa. Os dois caminhando, com as câmeras penduradas, em busca de uma imagem.
[Breve pausa]
Acho que essa é uma boa imagem para encerrar este vídeo.
[Fade out da foto. A tela fica preto por um momento, como se o vídeo fosse acabar, mas entra o trecho da entrevista de Cartier-Bresson no filme L’Amour tout court, o mesmo do começo, mas agora de 54:57 a 56:13: https://bit.ly/2R1g6Z9]
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16 de dezembro, 2018. Seção: Ensaios. Index: henri cartier-bresson, robert frank, bashô, cecília meireles, alice ruiz, martine franck. Publicação: Zen.
47 segundos
47 segundos
como a internet nos atrai (e nos distrai)
O que é possível fazer ou descobrir em 47 segundos na internet? Neste vídeo-ensaio, reunimos Emil Zátopek, Jaron Lanier, behaviorismo, tabagismo e redes sociais para tentar compreender como a internet nos atrai (e nos distrai).
O artigo que comentamos neste ensaio é o “Smartphone, uma arma de distração em massa“, escrito por Joseba Elola e publicado pelo El País.
47 segundos
como a internet nos atrai (e nos distrai)
30 dez. 2018 (9min 47seg)
texto zen
voz e edição maitan
index emil zátopek, gabriela andersen-schiess, frederic skinner, jaron lanier, charles darwin, jonathan franzen
palavras-chave internet, behaviorismo, redes sociais, privação sensorial, atletismo, corrida
trilha sonora
“opium” | *attn
game tight | dj vadim
sugarella | nickodemus
where is my mind | maxence cyrin
bushwick tarantella | kevin macleod
agradecemos
luis gustavo monezi (pela ajuda com as traduções)
24 de dezembro de 2018
em preto e branco
29 de novembro de 2018vídeo-ensaiohenry cartier-bresson,robert frank,martine franck,alice ruiz,bashô,philip glass,adam hurst,dmitri shostakovitch,erik satie,keaton henson,cecília meireles,andré rieu,giacomo scinardo,ren ford,michael riesman
em preto e branco
henri cartier-bresson & a arte oriental
Henri Cartier-Bresson atravessou o século XX, mas continuou fotografando em preto e branco. Neste vídeo-ensaio, aproximamos a arte oriental e o fotógrafo que imortalizou o conceito de “instante decisivo”, além de tentar flagrar na vida de Cartier-Bresson o fundamento de sua obra.
em preto e branco
henri cartier-bresson & a arte oriental
16 dez. 2018 (11min 30seg)
texto zen
voz e edição maitan
index henri cartier-bresson, robert frank, bashô, cecília meireles, alice ruiz, martine franck
palavras-chave fotografia, amor, haikai, sumi-ê, zen
trilha sonora
waltz no.2 | dmitri shostakovich, andré rieu
je te veux | erik satie, giacomo scinardo
healah dancing | keaton henson, ren ford
glassworks: i. opening | philip glass, michael riesman
midnight waltz | adam hurst
agradecemos
nathália gardin (pelas referências de edição), amanda de oliveira e isabella ribeiro (pelas traduções)
uma legião de elefantes
28 de novembro de 2018metadata,fotografialaurent baheux
uma legião de elefantes
criando wallpapers com laurent baheux e pripyat
Das diversas tarefas prazerosas na edição dos ensaios, uma é criar a imagem de capa que servirá como miniatura do vídeo no YouTube. Para os animais são outros povos, testamos várias montagens do elefante e de outras fotografias de Laurent Baheux com imagens da atual Pripyat, cidade mais populosa a ser evacuada após o desastre nuclear de Tchernóbil. Disponibilizamos abaixo para download 18 dessas tentativas. Cada uma sintetiza, com focos diferentes, o vídeo-ensaio em um único frame.
∝ genoma // esta publicação deriva e complementa o vídeo-ensaio os animais são outros povos. clique no link para acessar a página do ensaio ou no player abaixo para assistir.
consciência negra na lente de richard avedon
20 de novembro de 2018fotografiaRichard Avedon,martin luther king,malcolm x
consciência negra na lente de richard avedon
o esforço de sentir como o outro
Malcolm X, Martin Luther King Jr. e família, e membros do Comitê Coordenador Estudantil Não-Violento. Todos importantes personagens da história do movimento negro norte-americano, que ajudaram a desnublar olhares e iluminar um valor que compartilhamos no profundo: o anseio pela dignidade humana.
Essas fotografias foram tiradas por Richard Avedon, personagem do nosso primeiro vídeo-ensaio, em que tratamos principalmente de empatia, um valor fundamental para os não negros num dia como o de hoje. Richard sabia que estava registrando uma das partes mais importantes da história do século XX, e o sabia porque não se esquivava do esforço – muitas vezes insuficiente, mas de algum modo transformador – de sentir como o outro.
∝ genoma // esta publicação deriva e complementa o vídeo-ensaio a morte e o olhar. clique no link para acessar a página do ensaio ou no player abaixo para assistir.
20 de novembro, 2018. Seção: Fotografia. Index: Richard Avedon, Malcolm X, Martin Luther King Jr. Publicação: Maitan.
diário de um humano
18 de novembro de 2018metadataWoody Allen,Caique Zen,svetlana aleksiévitch,laurent baheux,os animais são outros povos
diário de um humano
vozes de tchernóbil & a sexta extinção
30 de outubro de 2018, terça-feira.
Os jornais noticiam o mais recente relatório: 60% dos animais do planeta Terra foram mortos nos últimos quarenta anos. No Caribe e na América do Sul, esse número chega a 89%. Algumas manchetes falam em “extinção em massa”.
A estatística computa apenas os animais vertebrados e silvestres. Não há dados sobre invertebrados, sobre animais domésticos ou criados para abate.
Publico a notícia no Facebook, com uma frase engraçadinha do Woody Allen:
“Mais do que em qualquer outra época, a humanidade está numa encruzilhada. Um caminho leva ao desespero absoluto; o outro, à total extinção. Vamos rezar para que tenhamos a sabedoria de escolher”.
31 de outubro de 2018, quarta-feira.
O presidente eleito quer fundir o Ministério da Agricultura com o Ministério do Meio Ambiente. Em outras palavras, colocar o lobo pra cuidar da ovelha.
Sem perceber, entro em um looping autodestrutivo, lendo notícias ruins atrás de notícias ruins, como um fumante acendendo um cigarro no outro. Uma matéria diz que os microplásticos chegaram ao intestino humano; outra, que falta pouco para a Amazônia chegar ao ponto de não retorno.
Compartilho as más notícias seguidas de comentários irônicos. Sem um pouco de humor, seria impossível digerir tanto microplástico.
1º de novembro de 2018, quinta-feira.
Acordo com uma frase insistente na cabeça, que diz: “Os animais são outros povos”.
Passo a manhã inteira com essas palavras na cabeça, repetidas como um refrão, batendo como um martelo: “Os animais são outros povos”.
Quando procuro a frase no Google, descubro de onde ela vem: Vozes de Tchernóbil, de Svetlana Aleksiévitch. Um livro de entrevistas com anônimos que viveram o desastre nuclear.
“Os animais são outros povos”: é um homem responsável por enterrar a terra radioativa com terra não radioativa quem diz essas palavras ao lembrar que nesse trabalho também se enterrava toda a vida que ali sobrevivera.
“Enterrávamos o bosque… Serrávamos as árvores, reduzindo-as a metro e meio, envolvíamos em plástico e as empurrávamos para uma fossa. À noite, eu não conseguia dormir. Fechava os olhos, e algo negro se movia, dava voltas. Como se estivesse vivo. Camadas vivas de terra. Com besouros, aranhas, minhocas. Eu não sabia o nome de nada disso, como se chamavam. Eram besouros, aranhas. E formigas. Grandes e pequenas, amarelas e negras. De todas as cores.
Não sei em qual poeta li que os animais são outros povos. E eu os exterminava às dezenas, centenas, milhares, sem saber como se chamavam. Destruía as suas casas, os seus esconderijos, enterrava, enterrava…”.
3 de novembro de 2018, sábado.
Desisto de acompanhar as notícias. Que ser humano, em sã consciência, alimentaria a própria raiva e a própria dor?
Ligo o computador, mas não a internet. Por sorte, tenho salvas as fotos de Laurent Baheux.
Essas fotos me fazem bem. Laurent fotografa os animais como quem fotografa outros povos. Sem o voyeurismo meio pervertido dos documentários da TV, que buscam a todo custo o selvagem; mas também sem domesticar o animal ou fotografá-lo à imagem e semelhança do humano.
Há, é certo, algo de humano no olhar desses animais. Mas apenas na medida em que também há algo de selvagem em nosso olhar.
Dizem que há culturas indígenas para as quais animais, e até mesmo plantas ou acidentes naturais, têm alma idêntica à humana. Entre essas culturas, muitas sustentam que, apesar da aparência diferente, animais são gente como nós. E mais: sendo gente, os animais veriam a nós, humanos, como bichos. Para eles, nós é que somos os animais.
4 de novembro de 2018, domingo.
No livro de Aleksiévitch, há outro homem que fala sobre animais: um cinegrafista que foi a Tchernóbil filmar a tragédia humana mas acabou fascinado com a natureza que a duras penas sobrevivia no local.
O cinegrafista conta a Aleksiévitch a ideia que tem para um livro, surgida das cenas que presenciou:
“Será uma parábola atual. A ação transcorre num planeta longínquo.
Um cosmonauta num traje espacial. Através dos auriculares, ouve um ruído. E vê que avança na sua direção algo enorme. Descomunal. Ainda sem entender do que se trata, o homem dispara.
Depois de um instante, vê novamente algo se aproximar. Ele o destrói.
Passado mais um instante, surge um rebanho. O homem organiza uma matança.
Mas o que acontece é que havia um incêndio ali perto, e os animais apenas tentavam se salvar correndo pelo caminho em que o cosmonauta estava.
Isso é o homem!
[Breve pausa].
Mas comigo… Comigo aconteceu uma coisa incomum. Eu passei a olhar os animais com outros olhos. E também as árvores. Os pássaros. Continuo viajando para a Tchernóbil todos esses anos. Das casas abandonadas e saqueadas saem javalis e alces. Isso eu filmei. É o que busco. Ver tudo pelos olhos dos animais”.
∝ genoma // esta publicação deriva e complementa o vídeo-ensaio os animais são outros povos. clique no título para acessar a página do vídeo ou no player abaixo para assistir.
18 de novembro, 2018. seção: ensaios. index: woody allen, svetlana aleksiévitch, laurent baheux. publicação: zen. revisão: maitan.
os animais são outros povos
14 de novembro de 2018vídeo-ensaioWoody Allen,svetlana aleksiévitch,philip glass,laurent baheux
os animais são outros povos
vozes de tchernóbil & a sexta extinção
“Não sei em qual poeta li que os animais são outros povos”. Em formato de diário, este vídeo-ensaio defronta as notícias recentes da extinção em massa de animais selvagens com a fotografia de Laurent Baheux e os relatos colhidos por Svetlana Aleksiévitch sobre o desastre nuclear de Tchernóbil.